Marcos dos Anjos Bezerra
“Todas as revoluções são impossíveis até que se tornem inevitáveis”.
(Leon Trotsky). Essa assertiva sintetiza a Rússia anterior a 1917, onde
predominava o poder dos czares, sendo os camponeses, maioria da população. Esse
ponto foi essencial para o levantamento dessa massa que comandada pela minoria
proletária derrubaram o czar em 1917 e instalaram o primeiro país socialista na
História.
A Rússia no início do século XX era um império com capitalismo atrasado,
com um campesinato miserável, compunha-se de uma nobreza estéril e uma
monarquia que subjugava o povo. Esses fatores não foram empecilhos para a
Revolução Socialista, esta foi para os povos da Rússia o meio de superar a
inferioridade econômica e cultural, segundo Trotsky.
Prevalecia na
Rússia a discrepância do capital estrangeiro que entrava no país com a questão
social. Os grandes acionistas das empresas eram não russos, sendo os operários
russos, que eram poucos se comparados aos camponeses. Estes tinham como reserva
revolucionária os camponeses que viviam no regime da semi-servidão no campo,
representavam cerca de 80% da população e estavam excluídos da distribuição das
terras.
Devido a todas
essas circunstâncias foi efetivada a aliança entre o campesinato e o
proletário, ou seja, houve a combinação de dois fatores históricos diferentes:
a guerra camponesa e a insurreição proletária, sendo a ultima a guiadora do
processo revolucionário.
Além dos
camponeses os proletários contaram com as contribuições de diversas nações
oprimidas pelos czares. Na Rússia
[...] a nação
dominante não constituía senão 43% da população, enquanto que os outros 57%
eram de nacionalidades, culturas e regimes diferentes. A opressão nacional era
na Rússia incomparavelmente mais brutal do que nos estados vizinhos e, para
dizer a verdade, não somente naqueles que estavam do outro lado da fronteira
ocidental como também nos da fronteira oriental. Isto dava ao problema nacional
uma força explosiva enorme [...]. (TROTSKY, 1989, p. 18).
Os bolcheviques
arregimentaram essas nações ao pregarem a autodeterminação das nações, o
direito a separação estatal. Toda essa conjuntura fez com que a Revolução de
Outubro se concretizasse, e esta deveria conduzir a uma solução da questão
agrária. Representou a vitória do programa socialista dos bolcheviques sobre os
mencheviques. Essas denominações surgiram a partir da ruptura de segmentos do
Partido Operário Social Democrata Russo em 1903. Onde Bolcheviques eram
partidários da luta armada para a tomada e instalação imediata do socialismo e
contrária a Rússia na Primeira Guerra. Já os Mencheviques idealizavam primeiro
o desenvolvimento do capitalismo para posteriormente o socialismo ser
efetivado, sendo a favor da permanência da Rússia na Primeira Guerra Mundial.
Resumindo: as
premissas históricas que levaram a Revolução de Outubro foram às ações
autoritárias dos czares; a debilidade da burguesia russa; a concentração de
terras para poucos; a organização e união dos proletários com os camponeses e
com as diversas nacionalidades reprimidas pelo czarismo; o ensaio de 1905; a
Rússia encontrar-se nos frontes da Primeira Guerra Mundial sem um exército
preparado, ocasionando severas perdas de vidas; além é claro da estruturação
eficiente do Partido Bolchevique, que com sua doutrina e lutas se tornaria a
direção do estado socialista, uma vez que os anseios do povo com a Revolução de
Fevereiro foram deixados de lado.
O surgimento do
Estado Proletário significou mudança social, representando a vitória e o povo
no poder. Mas foi preciso a luta armada para a consolidação do poder
pelos proletários. Historicamente nunca a classe dirigente abdicou e entregou o
poder pacificamente.
A manutenção do
socialismo russo se efetivou no período de 1918 a 1921. Período que
estrangeiros se uniram à nobreza local visando derrubar a revolução e
reinstaurar o czarismo. Mas a união do proletariado com os camponeses,
soldados, nacionalidades reprimidas possibilitando os revolucionários venceram
os opositores do Estado Proletário. A arregimentação das massas na Guerra Civil
deu-se por Leon Trotsky, que formou o exército vermelho em oposição ao Exército
Branco.
Com a
consolidação do socialismo na Rússia Lênin sobressaiu-se como líder dos
proletários, tendo como braço direito Trotsky. Com o novo regime a Rússia
apresentou um crescimento do setor industrial, com respaldo principalmente no
social.
[...] a curva
do desenvolvimento industrial na Rússia expressa-se como se segue: fixemos para
o ano de 1913, o último ano antes da guerra, o número 100. O ano de 1920, ápice
da guerra civil, é também o ponto mais baixo da indústria: 25 somente, quer
dizer, um quarto antes de produção de antes da guerra; em 1929, aproximadamente
200; 1932, 300; ou seja, três vezes mais que nas vésperas da guerra. (TROTSKY,
1989, p.32).
O crescimento da economia russa em 1929 deu-se em grande parte devido a adoção
da Nova Política Econômica e dos Planos Quinquenais. Enquanto a Rússia crescia
econômica e socialmente os países do eixo ocidental atravessavam grave crise em
virtude da grande crise financeira que eclodiu nos Estados Unidos em 1929 em
virtude da superprodução. A crise afetou praticamente todo o mundo, com exceção
da União Soviética que se pautava na liberdade, onde não se tinha a dependência
das leis de mercado. Essa fase austera da Revolução se deu com Lênin e Trotsky.
Após a morte de Lênin em 1924 travou-se um embate pelo controle da União
Soviética entre Trotsky e Stalin, saindo como “vencedor” o segundo. Trotsky foi
perseguido pelas forças do Estado Stalinista e teve que deixar a Rússia e se
exilou no México, sendo posteriormente assassinado a mando de Stalin.
No período em que esteve no México o líder do exército vermelho traçou severas
críticas ao governo de Stalin, taxado de ser responsável pelo estrangulamento
das organizações operárias e do próprio socialismo. Uma vez que as concepções
da Revolução para ambos eram diferentes: Trotsky lutava para levar o socialismo
a nível internacional, a única forma de promover o sucesso da Revolução; Stalin
argumentava que o sucesso do socialismo dar-se-ia somente a nível nacional.
Dentre as
principais críticas ao governo de Stalin feitas por Trotsky podemos
citar: falsa política de direção do país na superação do isolamento,
implantação de uma burocracia sobre o proletariado, expropriando-o. E os
proletários mesmo percebendo a ditadura sobre as massas não se rebelaram contra
tal sistema em razão da preocupação com o nazi-fascismo que estava em expansão
em grande parte na Europa. Derrubar o sistema poderia representar a derrocada
da revolução como um todo.
Só houve a
ditadura do proletário no início da revolução com Lênin, quando houve a
implantação do Capitalismo de Estado, isto é, a empresas econômicas passaram
para o domínio do estado, sendo a Nova Política Econômica apenas uma forma de
restaurar a economia da Rússia que foi abala em virtude da Guerra Civil de 1918
a 1921 e pela Primeira Guerra Mundial.
Na época
de Stalin, segundo Trotsky, o capitalismo foi reacionário, onde a economia, por
exemplo, foi sustentada pela cobrança de altos impostos e a política do partido
único (Partido Comunista) impôs a proibição da organização dos sovietes.
Teve-se, portanto, um governo instável, ditatorial e repressor sobre as massas.
Stalin transformou o Capitalismo de Estado pregado por Lênin e Trotsky em
empresas que priorizavam os trustes.
Esse monopólio
foi característico na época stalinista: a elite que sustentava a ditadura sobre
o proletário foi privilegiada, roubando uma parte da renda nacional e por meio
da burocracia devorava uma porção da mais-valia. Os salários, por exemplo,
passam a ser diferenciados. Podemos afirmar que a burocracia stalinista foi a
contrarrevolução, pois distorceu os ideais socialistas.
Para reverter o
quadro burocrático stalinista era preciso reestruturar o Partido Bolchevique
nos moldes da Nova Internacional Comunista e dá nova voz as bandeiras
marxistas. Só assim a capacidade de luta dos proletários ganhará força
mundialmente. (Leon Trotsky, 1989).
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
TROTSKY, Leon. A
Revolução Russa (Conferência), 1932: a natureza de classe da URSS. Tradução
Silvana Faó. Informação Editorial: São Paulo, 1989.
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