DIAS,
Claudete Maria Miranda. Resistência e Luta: A Balaiada no Piauí. In:_____. Balaios e Bem-te-vis: A Guerrilha Sertaneja. 2ª ed. Teresina:
instituto dom Barreto, 2002. p. 121-194.
Marcos dos Anjos
Bezerra
Licenciada em
História pela Universidade Federal do Piauí (1973), é Especialista em História
do Brasil (1980) e Mestra em História do Brasil pela Universidade Federal
Fluminense (1985), Doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro. O livro Balaios e Bem-te-vis: A
Guerrilha Sertaneja é dividido em cinco capítulos: Em busca dos sertões de
dentro; Em busca da liberdade, Resistência e luta: A Balaiada no Piauí; A
repressão armada; A historiografia em questão. Aqui será resenhado o terceiro
capítulo.
As guerras de
independência provocaram grave crise na economia local, pois a pecuária estava
decadente e faltavam alimentos ao povo. Sujeito a excessivos impostos o piauiense
era uma massa propensa para a eclosão de um movimento como foi a Balaiada.
A Regência formou
uma oligarquia repressora das camadas populares. Houve a sistematização do
recrutamento, principalmente aos pobres provocando descontentamento. As pessoas
recrutadas eram utilizadas em outras províncias nas tropas legalistas.
A Lei dos
Prefeitos é outro fator que foi de desencontro aos anseios da população. Esta
lei se resume no clientelismo, pois o Barão da Parnaíba nomeava pessoas de sua
confiança para os cargos de prefeitos. E isso vai contra prática democrática da
escolha dos juízes de paz pelos proprietários de terras. Esse clientelismo do
Barão da Parnaíba finca raízes antagônicas da elite local contra o presidente.
A má condição
de vida, recrutamento, a Lei dos Prefeitos e a administração do Barão da
Parnaíba contribuíram para eclosão Revolução Balaiense. Isso fica claro quando
em Vila da Manga (MA) quando o vaqueiro Raimundo Gomes teve seu irmão e outros
recrutados e pede para as autoridades os soltarem, não atendido liberta seus
companheiros da cadeia. Lança reivindicações como a volta dos juízes de paz, a
abolição dos prefeitos e a demissão do presidente da província. Iniciava-se a
Balaiada no Maranhão.
O governo
buscou desqualificar o movimento atribuindo-lhes conotações pejorativas: desordeiros,
assassinos. Ao atribuir essa ideia pensava-se que a população apoiaria as
forças do governo. Mas, o povo se aproximava dos balaios que adentram o Piauí
em busca de apoio.
No Piauí o movimento
se alastrou de norte a sul. A mata de Curimatá e Egito em Campo Maior foi o
núcleo de maior penetração dos balaios. O povo passou a resistir às forças do
governo, recusando o recrutamento.
A Balaiada no
Piauí foi marcada pelo engajamento de humildes e pequenos proprietários. A
massa que participou da Revolução Balaiense é identificada como “rebeldes”,
“malvados”, “desordeiros”, no entanto, Claudete apresenta esse povo como sendo
mestiços, humildes, lavradores, ou seja, os subjugados e excluídos.
No movimento destacam-se
as atuações dos proprietários Lívio Lopes Castelo Branco; Mascarenhas; Raimundo
Gomes que realizou deslocamentos para o Piauí para conseguir apoio. É de sua
autoria a união dos balaios com os escravos liderados pelo escravo Cosme. Manuel
Francisco dos Anjos Ferreira, Balaio, forma um grupo e se alia a Raimundo
Gomes. Outro líder foi Mascarenhas que agitou o Sul do Piauí e o documento de
sua autoria “O Pacto Social” provocou pânico do governo, pois enfocava um novo
governo a ser liderado por ele. Percebe-se um jogo político, onde caberia ao
povo lutar, mas não governar, pois o povo era despreparado e caberia a um
letrado governar.
É notória a
participação dos escravos na Balaiada. Eles tinham suas próprias formas de
resistência, mas isso não impediu que se unissem aos balaios. A pesar formarem
grupos antagônicos escravos e sertanejos uniram-se entorno de objetivos comuns.
Muito se
discute a organização dos representantes da Balaiada nas Províncias Piauienses
e maranhenses. A Historiografia tradicional deu à conotação de não consciência
do movimento. Essa visão foi a forma de desvalorizar os reprimidos e deixá-los
nos escombros memória. A ideia pejorativa dada a Balaiada foi planejada pela
elite política da época.
No entanto,
essa visão passa por reinterpretação, sobretudo, nos anos 1980 com os debates
levantados pela História Social e Cultural. Foi nessa nova perspectiva que
Claudete Dias percebeu a Revolução Balaiense. Ela trouxe para histórica o
Movimento na visão das massas com características próprias no Piauí. O
Movimento adquiriu novos conceitos e se atrela a busca da qualidade de vida e
do fim das arbitrariedades de um governo.
Ao trazer essa
discussão sobre a Balaiada Claudete contribuiu de forma significativa para a
história. Trouxe o que até então não se discutia: a organização do movimento.
Isso fica claro nos objetivos claramente identificados (fim da ditadura do
Barão da Parnaíba, do recrutamento e da Lei dos Prefeitos). A mobilização dos
balaios além da própria composição do movimento em grupos representa claramente
sua organização.
Ressalta-se
que o movimento não se deu de forma igualitária nas duas províncias e que o
Piauí foi um agente importante para balaios ou legalistas. O Primeiro conflito
armado se deu no Piauí (Barra do Longá), as forças legalistas do Piauí foram utilizadas
na defesa de terras maranhenses e alguns dos líderes sertanejos que agiram no
Maranhão eram piauienses.
Mesmo com sua
organização e mobilização os Balaios foram derrotados pelos legalistas. Sua
derrota não se atribui ao seu despreparo, mas sim a repressão do governo com
aparato militar superior. As forças do Barão da Parnaíba foram reforçadas por
tropas de outras províncias. Somou-se a isso o fato de algumas lideranças se
retiraram do movimento, enquanto outros morreram em combate (Balaio) ou foram
presos (Cosme). A anistia de 1840 promoveu a rendição de muitos combatentes.
Conclui-se que
a Balaiada mesmo sendo um movimento de grandes proporções em composição social
e conflitos armados a historiografia brasileira não a valoriza. E os políticos piauienses
não têm a preocupação de difundir o movimento para a sociedade. A população
muitas vezes renega o movimento. Isso não é culpa do povo, mas das diretrizes
educacionais que abordam a Balaiada nos livros didáticos de forma bastante
resumida e sendo somente do Maranhão. É preciso mudar esse quadro, caso
contrário a Revolução Balaiense não será abordada como identidade de nossa gente e movimentação de nossa
sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário