quinta-feira, 26 de junho de 2014

RESENHA DO CAPÍTULO "A BALAIADA NO PIAUÍ" DO LIVRO "BALAIOS E BEM-TE-VIS: A GUERRILHA SERTANEJA" DE CLAUDETE DIAS



DIAS, Claudete Maria Miranda. Resistência e Luta: A Balaiada no Piauí. In:_____. Balaios e Bem-te-vis: A Guerrilha Sertaneja. 2ª ed. Teresina: instituto dom Barreto, 2002. p. 121-194.

Marcos dos Anjos Bezerra

Licenciada em História pela Universidade Federal do Piauí (1973), é Especialista em História do Brasil (1980) e Mestra em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense (1985), Doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. O livro Balaios e Bem-te-vis: A Guerrilha Sertaneja é dividido em cinco capítulos: Em busca dos sertões de dentro; Em busca da liberdade, Resistência e luta: A Balaiada no Piauí; A repressão armada; A historiografia em questão. Aqui será resenhado o terceiro capítulo.
As guerras de independência provocaram grave crise na economia local, pois a pecuária estava decadente e faltavam alimentos ao povo. Sujeito a excessivos impostos o piauiense era uma massa propensa para a eclosão de um movimento como foi a Balaiada.
A Regência formou uma oligarquia repressora das camadas populares. Houve a sistematização do recrutamento, principalmente aos pobres provocando descontentamento. As pessoas recrutadas eram utilizadas em outras províncias nas tropas legalistas.
A Lei dos Prefeitos é outro fator que foi de desencontro aos anseios da população. Esta lei se resume no clientelismo, pois o Barão da Parnaíba nomeava pessoas de sua confiança para os cargos de prefeitos. E isso vai contra prática democrática da escolha dos juízes de paz pelos proprietários de terras. Esse clientelismo do Barão da Parnaíba finca raízes antagônicas da elite local contra o presidente.
A má condição de vida, recrutamento, a Lei dos Prefeitos e a administração do Barão da Parnaíba contribuíram para eclosão Revolução Balaiense. Isso fica claro quando em Vila da Manga (MA) quando o vaqueiro Raimundo Gomes teve seu irmão e outros recrutados e pede para as autoridades os soltarem, não atendido liberta seus companheiros da cadeia. Lança reivindicações como a volta dos juízes de paz, a abolição dos prefeitos e a demissão do presidente da província. Iniciava-se a Balaiada no Maranhão.
O governo buscou desqualificar o movimento atribuindo-lhes conotações pejorativas: desordeiros, assassinos. Ao atribuir essa ideia pensava-se que a população apoiaria as forças do governo. Mas, o povo se aproximava dos balaios que adentram o Piauí em busca de apoio.
No Piauí o movimento se alastrou de norte a sul. A mata de Curimatá e Egito em Campo Maior foi o núcleo de maior penetração dos balaios. O povo passou a resistir às forças do governo, recusando o recrutamento.
A Balaiada no Piauí foi marcada pelo engajamento de humildes e pequenos proprietários. A massa que participou da Revolução Balaiense é identificada como “rebeldes”, “malvados”, “desordeiros”, no entanto, Claudete apresenta esse povo como sendo mestiços, humildes, lavradores, ou seja, os subjugados e excluídos.
No movimento destacam-se as atuações dos proprietários Lívio Lopes Castelo Branco; Mascarenhas; Raimundo Gomes que realizou deslocamentos para o Piauí para conseguir apoio. É de sua autoria a união dos balaios com os escravos liderados pelo escravo Cosme. Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, Balaio, forma um grupo e se alia a Raimundo Gomes. Outro líder foi Mascarenhas que agitou o Sul do Piauí e o documento de sua autoria “O Pacto Social” provocou pânico do governo, pois enfocava um novo governo a ser liderado por ele. Percebe-se um jogo político, onde caberia ao povo lutar, mas não governar, pois o povo era despreparado e caberia a um letrado governar. 
É notória a participação dos escravos na Balaiada. Eles tinham suas próprias formas de resistência, mas isso não impediu que se unissem aos balaios. A pesar formarem grupos antagônicos escravos e sertanejos uniram-se entorno de objetivos comuns.
Muito se discute a organização dos representantes da Balaiada nas Províncias Piauienses e maranhenses. A Historiografia tradicional deu à conotação de não consciência do movimento. Essa visão foi a forma de desvalorizar os reprimidos e deixá-los nos escombros memória. A ideia pejorativa dada a Balaiada foi planejada pela elite política da época.
No entanto, essa visão passa por reinterpretação, sobretudo, nos anos 1980 com os debates levantados pela História Social e Cultural. Foi nessa nova perspectiva que Claudete Dias percebeu a Revolução Balaiense. Ela trouxe para histórica o Movimento na visão das massas com características próprias no Piauí. O Movimento adquiriu novos conceitos e se atrela a busca da qualidade de vida e do fim das arbitrariedades de um governo.
Ao trazer essa discussão sobre a Balaiada Claudete contribuiu de forma significativa para a história. Trouxe o que até então não se discutia: a organização do movimento. Isso fica claro nos objetivos claramente identificados (fim da ditadura do Barão da Parnaíba, do recrutamento e da Lei dos Prefeitos). A mobilização dos balaios além da própria composição do movimento em grupos representa claramente sua organização.
Ressalta-se que o movimento não se deu de forma igualitária nas duas províncias e que o Piauí foi um agente importante para balaios ou legalistas. O Primeiro conflito armado se deu no Piauí (Barra do Longá), as forças legalistas do Piauí foram utilizadas na defesa de terras maranhenses e alguns dos líderes sertanejos que agiram no Maranhão eram piauienses.
Mesmo com sua organização e mobilização os Balaios foram derrotados pelos legalistas. Sua derrota não se atribui ao seu despreparo, mas sim a repressão do governo com aparato militar superior. As forças do Barão da Parnaíba foram reforçadas por tropas de outras províncias. Somou-se a isso o fato de algumas lideranças se retiraram do movimento, enquanto outros morreram em combate (Balaio) ou foram presos (Cosme). A anistia de 1840 promoveu a rendição de muitos combatentes.

Conclui-se que a Balaiada mesmo sendo um movimento de grandes proporções em composição social e conflitos armados a historiografia brasileira não a valoriza. E os políticos piauienses não têm a preocupação de difundir o movimento para a sociedade. A população muitas vezes renega o movimento. Isso não é culpa do povo, mas das diretrizes educacionais que abordam a Balaiada nos livros didáticos de forma bastante resumida e sendo somente do Maranhão. É preciso mudar esse quadro, caso contrário a Revolução Balaiense não será abordada como identidade de nossa gente e movimentação de nossa sociedade.

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