Marcos dos Anjos Bezerra
O período que se inicia com as conquistas até
aproximadamente a década de 1540 na América é conhecido como a época dos
conquistadores. Neste período, os espanhóis utilizavam duas formas de trabalho
para extrair riquezas: a escravidão e a encomienda.
A escravidão tinha por base as
interpretações dos textos de Aristóteles. Tinha-se também a visão que os povos
americanos eram inferiores e, portanto, poderiam ser reduzidos à escravidão por
uma sociedade que lhe fosse superior, no caso a espanhol.
Foi
somente em 1530 que o trabalho escravo foi proibido nas terras conquistadas,
mas os escravos não forma libertos de imediato, mas alguns se suicidavam e
outros adquiriam a alforria.
Outra
modalidade de trabalho paralela à escravidão foi a encomienda: Aos conquistadores, aos serviços prestados à coroa, era
encomendada uma comunidade, ao qual deveria defender e ensinar a religião
católica e em troca, a comunidade deveria pagar-lhe tributos em espécie ou em
trabalho.
Para
sistematizar a organização do trabalho na América Espanhola foi promulgada em
1542 as “Leis Novas”. E em 1548 uma nova legislação estabeleceu o repartimiento dos índios, as
comunidades deveriam ceder certo número de homens para trabalharem nas minas,
fazendas e cidades. Geralmente estes trabalham durantes alguns meses a um ano,
e o trabalhador recebia um salário para que pudesse sobreviver e pagar tributo
ao rei. No entanto, era um salário pequeno e recebia diversos descontos. O repartimiento nas sociedades astecas foi
uma reformulação da mita, claro com
as concepções dos espanhóis.
A
introdução da economia mercantil contribuiu para a desestruturação das relações
econômicas e culturais das populações submetidas ao domínio colonial. E suas
consequências foram a aumento da mortalidade e a queda da taxa de natalidade.
Mas
o grande terror das populações nativas era o repartimiento nas minas, o que levava muitas mães a torcerem os pés
de seus filhos para que futuramente fossem dispensados desta atividade. As
minas mais conhecidas eram as de Potosí (prata) e a de Huancavelica (mercúrio).
O repartimiento de índios requisitava
também homens para o trabalho nas manufaturas. E assim como os mineiros
recebiam baixos salários e eram submetidos à condição de trabalho de grande
dureza.
A imposição
de tributos como a encomienda e o repartimiento desestruturam as relações
tradicionais de trabalho dos americanos que, com excessivos trabalhos, não
encontravam meios para reproduzir seus bens materiais e simbólicos.
Os
excessivos trabalhos desarticularam as relações do homem com a natureza e com
eles mesmos, provocando uma crise de identidade própria. Muitos se suicidaram,
praticavam infanticídio, abortos, abstinência sexual e alimentar.
Além
de instituírem uma nova forma de trabalho os espanhóis impuseram uma nova forma
de religião: o cristianismo. Houve uma condenação das divindades locais.
Ser
vencido pelos espanhóis não representou apenas uma derrota militar, mas uma
derrota religiosa. Ser vencido significou que seus entes sobrenaturais haviam
perdido o poder. E os católicos negavam a forma de viver e a maneira como os
americanos organizavam sua realidade social e cultural. Com isso o aparato
cultural e simbólico das populações se desestruturaram.
Pode-se
dizer que o contato entre culturas tão diversas (americana e europeia)
desencadeou o fenômeno da aculturação. E tal fenômeno apresenta varias formas e
variantes. E segundo Wachtel são dois os tipos de tipologia da aculturação: o
primeiro se refere a integração, ou seja, uma aculturação espontânea, o
dominado incorpora valores e simbologias da cultura dominante por vontade
própria para satisfazer interesses imediatos; o segundo refere-se a
assimilação, ou seja, uma aculturação imposta mediante imposição. A cultura dos
dominados foi negada, combatida e proibida; a cultura dominante foi imposta
pela força.
Somou-se
a uma nova forma de trabalho e ao processo da aculturação a extirpação da
idolatria, ou seja, houve uma repressão e proibição dos cultos dos americanos.
Nos primeiros tempos da conquista a repressão religiosa limitou-se a
destruições, incêndios e saques aos templos, túmulos, estátuas e objetos
sagrados.
Ao
mesmo tempo em que a religião tradicional era proibida, a colonização espanhola
empenhou-se no processo de evangelização, mas esta se deu de forma superficial
devido, sobretudo a insuficiência numérica de funcionários e ao próprio
despreparo dos religiosos.
Como
campanha da extirpação das idolatrias dos povos americanos, implantou-se a visita das idolatrias, muito temida na
época. Esta visita se resumia em visitas a varias regiões durante quinze dias e
promovia interrogatórios, confissões, procissões e incentivava delações, havia
destruição de santuários e estátuas sagradas, além de se queimar múmias dos
antepassados. Todos esses fatores eram vistos pela população local como
amedrontador, assustador.
No
entanto, as populações nativas não se conformavam com tal situação e chegaram a
promover resistências a dominação espanhola. O exemplo clássico de resistência
ao domínio espanhol foi à revolta elaborada por Manco. Este não conformado
pelas humilhações que recebia da “elite espanhola” reuniu um exercito de
cinquenta mil homens e chegou a provocar pânico aos espanhóis, mas seu exercito
enfraqueceu em razão de seus soldados voltarem a cultivarem suas terras, e
Manco teve que recuar. Não foi somente este conflito que aconteceu, teve outros
que se levantaram contra a imposição cultural e religiosa por parte dos
espanhóis.
Nota-se, portanto, que repressão,
o aculturamento e a guerra foram marcas presentes na América à época do
desencontro de dois mundos diferentes. O
reconhecimento da diversidade não ocorreu.
REFERÊNCIA:
FERREIRA, Jorge Luiz. Opressão, aculturação e guerra. In:
Conquista e colonização da América Espanhola. p. 55-89.
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