HALBWACHS,
Maurice. Memória Coletiva e memória individual; memória coletiva e memória
histórica. In:_____. A memória coletiva.
São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990. p. 25-89.
Marcos
dos Anjos Bezerra
De
família universitária desde seus vinte anos encarnou o filósofo, isto é, aquele
para quem o cuidado no pensar é fundamental. Renegou a possibilidade de
qualquer pensamento puramente individual. Assegurou que o fato social não é
exterior ao cientista, não é exterior aos homens que o vivem. A Sociologia para
ele é a descrição concreta da sociedade. Não podemos pensar nada, não podemos
pensar em nós mesmos, senão pelos outros, através do coletivo.
Halbwachs, em
Memória Coletiva, aponta que os testemunhos dos outros pode fortalecer ou debilitar
as informações sobre um determinado fato. Geralmente a impressão de algo
precisa dos testemunhos dos outros para reforçar a exatidão, pois as lembranças
de uma pessoa estão alinhadas as lembranças dos outros. Exemplo dessa memória
coletiva: o conhecimento adquirido não é puramente nosso, o temos através de
leituras bibliografias.
À medida que
convivemos com um grupo e nos identificamos com ele nossas memórias são as do
grupo, chega-se a ideias através dos componentes dos grupos. Pode acontecer dos
outros se lembrar de algo que eu não me lembre, pois não basta somente
presenciar algo para que este se transforme em imagens significativas. É
preciso que eu me identifique com o grupo de formação dessas imagens, caso
contrário elas permanecerão nos escombros da memória.
As imagens que
nos são impostas podem mudar a visão que eu tinha sobre um fato do passado. A
partir dessa imposição pode-se obter uma maior exatidão sobre o fato, pois nos
apoiamos em outras lembranças, assim como a nossa primeira impressão do
acontecimento poderia ser a verdadeira e as lembranças dos outros introduzidos
na nossa pode trazer a distorção do fato.
A convivência
com um determinado grupo nos proporciona uma identificação com o mesmo e o meu
passado se confunde com o do grupo a que pertenço, isto porque a convivência
faz com que o depoimento dos outros sejam verdadeiros e tomamos como nosso. Em
outras palavras as imagens dos integrantes do grupo se fundem com as nossas
lembranças.
Pode acontecer
que uma pessoa nos reconstrua algo e a nossa memória o capte como já visto,
isto acontece devido o fato ter sido marcante tanto para mim como para a pessoa
que está me relatando o acontecimento. A não interação entre as pessoas de um
grupo provoca o esquecimento por uma das partes. Aquele que viveu a interação
de um grupo terá maior lembrança.
A partir de
Halbwachs podemos constatar que às vezes lembramo-nos de algo e às vezes não.
Esquecer um período da vida é perder o contato com aqueles que nos rodearam e
quando distanciamos de algo o que passa a predominar é uma lembrança vaga do
acontecido. Lembramo-nos daquilo que experimentamos juntos aos outros. Um grupo
com constantes entrada e saída de pessoas é propício do esquecimento da
memória, isso acontece porque esse vai e vem de pessoas não forma a identidade
do grupo.
Um
grande número de lembranças reaparece por interferência dos outros. Por mais
que uma pessoa se diga sozinha, ela está apenas na aparência, isto porque o
homem é por natureza um ser social e está confinando dentro de uma sociedade.
Halbwachs
deixa claro que não existe a memória individual e a coloca como possível
somente na consciência intuitiva, onde não entra os elementos do pensamento
social. A nossa memória de criança é falha devido ao fato de nessa etapa da
vida ainda não sermos um ser social. Nossas primeiras lembranças nos são
passadas por nossos pais, ou seja, se forma coletiva. A lembrança que nos é
passada pode representar o contato com o passado e termos uma reconstrução
histórica.
Em uma viagem
de adultos percebe-se uma variação das memórias. Uma pessoa que viaja, mas não
interage com o grupo terá memórias diferentes das outras pessoas que
interagiram. A vivência, o local e as relações entre as pessoas faz com que
nossas lembranças permaneçam.
Cada grupo
social empenha-se em persuadir seus membros. As nossas preferências e
sentimentos são expressões colocadas em relação ao grupo a que pertencemos. As
lembranças mais presentes são gravadas na memória dos mais próximos a nós e as
difíceis de serem recuperadas dão-se devido a ela pertencer somente a mim e não
a nós. Logo, a memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva.
A memória aparece por meio da vida pessoal. O
indivíduo é membro de um grupo, evoca e mantém lembranças para o grupo. Por
mais que se considere a memória individual ela não está fechada, pois ela é uma
produção social. Muitas vezes me identifico como membro de um grupo sem ter
participado ativamente e o conhecimento que tenho sobre ele se deu de forma indireta,
como por exemplo, através de leituras de jornais ou depoimentos de pessoas que
participaram ativamente. É uma memória emprestada e não minha. Caberia aqui uma
classificação dessa memória: memória interna ou autobiográfica e memória
externa ou histórica.
A memória
histórica está atrelada ao conhecimento dos fatos históricos nos dados pelo
meio externo. A memória interna é aquela a que estamos inseridos, e a histórica
é o conhecimento dos fatos históricos depois de produzidos, nos relacionamos de
forma afastada.
As pessoas de
uma época assimilam seus hábitos e traços e aprendem a distinguir a fisionomia
e aspecto de um período pelo meio contemporâneo. É em forma de lembrança que
devemos dá significado aos fatos. Estes através de quadros coletivos não se
resumem a datas, nomes e representam pensamentos onde se reencontra o passado.
A história não abarca todo o passado. Ela engloba os grupos e as transferências
de costumes modificados segundo os novos modelos. Essa constatação deixa claro
que as marcas do passado podem ser percebidas e que os observadores
contemporâneos analisam as mudanças.
A memória se
apoia no vivido e conserva, apoia e reconstrói o passado mediante o presente. A
morte de uma pessoa não interrompe a memória. A morte do Motorista Gregório
devido à forma como ocorreu intensificou a memória ao seu entorno. As pessoas
ao retratarem o Motorista Gregório o percebe com traços diferentes. Esse
exemplo de história local difere da nacional, esta retém fatos que interessam
aos membros da nação.
Há, portanto,
uma diferença entre memória coletiva e memória histórica. A primeira se refere
às lembranças que subsistem por si só, persiste na consciência do grupo, sendo
inútil escrevê-la; enquanto que a segunda retrata aquilo que é escrito, se
interessando pelas diferenças e contradições, se concentrando nas formações
longas. Existem muitas memórias coletivas enquanto só há uma história. A
memória coletiva ver as mudanças de dentro enquanto a história analisa as
mudanças de fora.
Conclui-se que
o autor é muito claro na defesa da memória coletiva sobre a possível existência
da individual e que as diferenciações entre memória coletiva e história não se
dá para sobrepor uma a outra, mas sim para justificar a importância de ambas,
pois é impossível perceber a memória fora de um contexto histórico, bem como um
contexto sem uma memória construída.
Nenhum comentário:
Postar um comentário