quinta-feira, 26 de junho de 2014

ESTADOS UNIDOS: DA COLÔNIA À INDEPENDÊNCIA


Marcos dos anjos Bezerra

            A história dos Estados Unidos da América da época colonial apresenta diversas dificuldades. Uma delas está no fato de não existir Estados Unidos-Colônia. Existiam colônias autônomas dentro da América do Norte. No entanto, muitos estudiosos acabam generalizando e conferindo uma unidade disfarçada para a América anglo-saxônica. É preciso rescindir aos programas tradicionais de explicação. Geralmente a versão tradicional elabora certas “verdades didáticas” sobre a colonização inglesa. Estas “verdades” separam as colônias em dois tipos: exploração e povoamento.
            Segundo essa visão as colônias do tipo exploração seriam as ibéricas, pois a meta central dos colonizadores era enriquecer a metrópole, logo se explica o atual estado de subdesenvolvimento de países como o Brasil, Peru, México, pois nesses países reinava a cobiça e desejo de ascensão social. Já as de desenvolvimento seriam as anglo-saxônicas, onde o objetivo dos aventureiros seria o povoamento da terra e por consequência o seu enriquecimento, portanto, se tem a explicação do desenvolvimento atual, por exemplo, dos Estados Unidos.
            Só recentemente com visões novas e mais fiéis aos documentos é que estas posições foram contrariadas. O escritor brasileiro Vianna Moog critica tais versões. Para ele é preciso abordar outros fatores para compreender o grau de desenvolvimento ou subdesenvolvimento de um local, tal como os fatores geográficos e culturais, a religião. Nas áreas da América do Norte o clima, o relevo, a hidrografia favorecia o trabalho do colonizador se equiparado às áreas coloniais de Portugal ou Espanha. Dentro da questão religiosa o ideal católico buscava a salvação da alma, o progresso era visto com desconfiança, o trabalho deveria ser evitado pela elite, devendo ficar a caráter dos seres inferiores. Já os protestantes pregavam o contrário: valorizavam o trabalho e a riqueza era bem vista, logo a circulação de produtos e pessoas eram mais intensos.
            Não é o simples reducionismo aos termos exploração e povoamento que propiciam respostas para as diferenças existentes dentro da América. É preciso entender a colonização inglesa e suas particularidades, para tanto é pertinente levar em conta a situação da Inglaterra antes de iniciar esta colonização.
            Ao final da Idade Média, a Inglaterra havia enfrentado a Guerra dos Cem Anos, a Guerra das Duas rosas. Estas guerras formou uma nacionalidade inglesa, uniu o país entorno de um objetivo e colaborou para enfraquecer a nobreza e suscitar na Inglaterra o desejo de um poder centralizado. A família Tudor foi a responsável pela afirmação do poder real na Inglaterra, bem como pelo questionamento a autoridade papal. Henrique VIII, Eduardo VI e Elizabeth ao enfrentarem a Igreja de Roma promoveu um crescente nacionalismo. O primeiro rompeu com o poderio da Igreja Romana na Inglaterra, fundou a religião Anglicana e tomou para si as terras e riquezas da Igreja Católica. A última promoveu a época de expansão inglesa.
            O século XVII na Inglaterra foi marcado pela intensificação do processo dos cercamentos e juntamente com eles houve o aumento do êxodo rural. As cidades aumentam e numero de pobres passa a ser enorme. Pobres, mulheres, órfãos, religiosos perseguidos formaram a maior parte do contingente de pessoas que emigraram para a América em busca de melhores condições. Nessa época os choques entre rei e burguesia, entre religião oficial e seitas colaborou para tornar o século XVII conturbado na Inglaterra. Essa situação da Inglaterra ajuda a compreender a ausência de um projeto colonial sistemático para a América. As pessoas que vieram para a América tiveram que construir muita coisa, inclusive uma memória.
             A primeira tentativa de colonização da América do Norte se deu no reinado de Elizabeth. A soberana concedeu aos nobres terras assegurando-lhes direitos. Tinha-se a preocupação em explorar o ouro e a prata. Não se tinha de fato a preocupação de investir na colonização de terras desconhecidas, a pirataria aos navios espanhóis repletos de ouro e prata era mais vantajosa. Somente no século XVII é que a Inglaterra irá reviver o impulso colonizador, mas tal empreita será entregue não mais a nobres individuais, mas sim as Companhias.
            Um dos setores mais difundidos dentro da colônia americana foi à educação. Tinha-se o ideal da interpretação individual da Bíblia, logo era necessário promover a difusão do conhecimento para a população. Houve o esforço em prol da educação formal. A generalização de escolas primárias e a preocupação de que todos aprendessem a ler e escrever estão muito presentes nas colônias ingleses que nas ibéricas. A educação era feita por membros da comunidade e paga pela comunidade. Surgiram várias universidades e uma das consequências foi à baixa do analfabetismo.
            Além da difusão do conhecimento outra característica central das Treze Colônias foi à importância dada ao trabalho. Enriquecer pelo trabalho é uma obrigação. O trabalho não seria um castigo, mas uma benção. O dinheiro adquirido pelo trabalho era um sinal de ser eleito por Deus.
            Apesar da importância dada ao trabalho pelos norte-americanos, a sua concretização não se deu de forma homogênea. Dois modelos se desenvolveram: um centrado no trabalho livre, com a economia pautada na mecanização interna; outro girava em torno do trabalho escravo, no sistema de plantation e voltado para o mercado externo.
            Os principais prejudicados pelo sistema colonial foram os índios e os escravos. Muitos autores falam de genocídio para caracterizar as populações indígenas que sofreram na América do Norte. Existe uma diferença entre o genocídio ibérico e anglo-saxão. Os ingleses não integraram o índio no seu universo. Os ibéricos pretenderam apesar de usarem a forma autoritária para tal objetivo. A escravidão foi intensa, principalmente nas colônias do sul devido à necessidade de tal mão-de-obra para a comercialização da monocultura. Tiveram locais que o número de escravos foi tão intenso que se tornou um pesadelo para o mundo branco. Houve resistência, sejam através de fugas, incêndios, insurreições, etc.
            A população dos Estados Unidos aumentou consideravelmente devido, sobretudo a imigração e ao próprio desenvolvimento natural da população das colônias. Os principais imigrantes foram os alemães, escoceses e irlandeses. Mas os franceses protestantes marcaram sua presença. A elite comercial vivia nas cidades, mas a maioria populacional das Treze Colônias era rural.
            E a vida cotidiana dessas populações muito se assemelhava ao modo europeu. A autoridade residia no pai e as mulheres trabalhavam dentro e fora de casa. As mulheres casavam-se geralmente aos 24 anos. Apesar disso não tinham uma identidade legal. Depois dos sete anos as crianças eram vestidas como pequenos adultos. Quase todos os homens andavam armados. As igrejas anglo-saxônicas só tinham o que fosse necessário.
            No século XVIII as guerras europeias e seus reflexos na América irão alterar a história das Treze Colônias. A Guerra dos Cem Anos, a Guerra do Rei Guilherme terminam mediante acordos entre os envolvidos (Inglaterra e França), mas tais acordos representaram somente os interesses ingleses, as necessidades dos colonos não foram levadas em conta. Os questionamentos a respeito do domínio inglês começam a aparecer.
            As tensões entre colonos e ingleses aumentaram em razão da política conservadora implantada pela Inglaterra: a presença militar na colônia custeada pelos colonos; a Lei do Açúcar visava destruir a tradição dos colonos em comprar melaço mediante o comércio triangular; Lei da Moeda proibia a emissão de crédito na colônia, buscava-se restringir a autonomia das colônias; a Lei do Selo estabelecia que todos os documentos da colônia deveriam ser taxados por selos da metrópole.
            Devido a todas as leis restritivas os norte-americanos se influenciam pelas ideias de John Locke. As ideias deste formaram um bojo que levaria a proclamação da Independência das Treze Colônias. Passaram a ser realizadas reuniões para discutir a situação no qual as Treze Colônias estavam envolvidas e a solução encontrada foi redigir a Declaração de Independência que ficou pronta em 4 de julho de 1776. Houve resistência por parte da Inglaterra, no entanto, os norte-americanos obtiveram o apoio de países rivais aos ingleses e em 1781 colonos e aliados obtém a vitória decisiva na Virgínia. A tradição política aponta como alguns dos responsáveis pela construção da recém-nação George Washington, Thomas Jefferson e Benjamim Franklin.  
            Com a independência criou-se uma constituição centrada na república federalista, pautada nos poderes executivo, legislativo e judiciário. George Washington é eleito o primeiro presidente. A escravidão se mantém e os norte-americanos se lançam no século XIX e XX na expansão de seus territórios.

            Conclui-se que a colonização anglo-saxônica não contou com a tutela do Estado. Não houve na Inglaterra moderna o monopólio católico onde o rei e Deus tinha a mesma fala. Calvinistas, católicos e anglicanos fizeram os ingleses conviver com a diversidade. O empreendimento da colonização foi feito por companhias comerciais. Houve a estimulação a alfabetização nas Treze Colônias. As colônias prosperaram de formas diferentes. O índio não foi assimilado, não houve projetos de catequização. Com a aprovação de leis autoritárias houve reação e confrontos entre colonos e ingleses aumentaram. A independência debilitou a Inglaterra, estimulou a Revolução Francesa. Assim os Estados Unidos demonstraram ser possível romper o Pacto Colonial e seu posterior desenvolvimento reforçou a ideia de que os EUA era o modelo a ser seguido pelo restante da América. 

REFERÊNCIA:

KARNAL, Leandro. Estados Unidos: da colônia à independência. São Paulo: Contexto, 1990.

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