MONTEIRO,
Carlos Augusto de Figueiredo. A BALAIADA (Um
Painel Revelador). In: _____. Tempo de Balaio. Florianópolis: UFSC/CFH/GCN, 2008. p. 179-284.
Marcos dos Anjos
Bezerra
Nascido
em 1927, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, natural de Teresina, é geógrafo
licenciado em geografia e história na antiga Faculdade de Filosofia da
Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, com complementação na Universidade de
Paris (Sorbonne). Em 1955 iniciou, em Florianópolis, sua carreira no magistério
superior como responsável pela cadeira de Geografia Física na antiga Faculdade
Catarinense de Filosofia. Atuou até 1959, sendo convidado a ser coordenador da
elaboração do Atlas Geográfico de Santa Catarina, publicado em 1958, obra
pioneira no Brasil.
Tempo de Balaio é composta de quatro
capítulos: Os Fundamentos Estruturais (características
da exploração da terra e seu advento político); A Dinâmica Processual (as etapas na evolução da sociedade); A Balaiada
(Um Painel Revelador); Tempo de Mudanças
(O Meio do Século e Perspectivas Futuras).
Será resenhado o terceiro capítulo.
Debate-se
o período regencial como um mosaico de insatisfações de grupos diferentes. Os
movimentos que ocorrem nessa época apresentam variações de uma região para
outra. Isso fica claro contrapondo-se os movimentos do eixo norte-nordeste com
os do sul.
Um dos
movimentos que se destacou pelo envolvimento de populares foi a Balaiada que
eclodiu em 1838 no Maranhão (Vila da Manga) e que adentra rapidamente o Piauí. Para
Compreender as particularidades do Piauí se torna necessário considerar as
afinidades e diferenças do movimento no Maranhão.
Para Monteiro o
recrutamento, atrelado a Lei dos Prefeitos, regime autoritário do Barão
constitui-se os pontos clássicos para a eclosão da Balaiada no Piauí. Contudo,
pode-se apontar um quarto ponto e talvez o principal para o descontentamento do
povo: o fato da formação da sociedade piauiense ter excluído os populares, o
Piauí estava em crise econômica, o povo passava fome e pagava muitos impostos,
este grupo constituía uma massa propensa para um movimento de grandes
proporções que foi a Balaiada.
Raimundo Gomes
tendo seu irmão e companheiros recrutados invade a cadeia de Vila da Manga-MA e
consegue soltar os prisioneiros. Tal ato é tido como heroico. É possível um questionamento a tal feito: o recrutamento iniciou-se bem
antes da Regência, porque Raimundo Gomes questionou o recrutamento somente
quando pessoas próximas a si são recrutadas? Será porque ele viu os ofícios de
sua profissão prejudicados?
Esses
questionamentos são utilizados para justificar a participação dos pequenos proprietários
na Balaiada. Este grupo participou para questionar a Lei dos Prefeitos. Isso
fica claro em Parnaíba, onde segundo o autor os líderes eram contrários à
aliança com os escravos.
Monteiro
aponta que a Balaiada ganhou força rapidamente no Maranhão e Piauí e que em
torno de Raimundo Gomes surgiram lideranças populares, tais como Balaio e Cosme
que formaram imensos grupos de pessoas. Cosme conseguiu aglutinar milhares de
quilombolas.
A participação
de escravos nas duas províncias se deu de forma diferente: no Piauí a sua
participação seu de forma complementar. Odilon Nunes apontou o escravo como mão
de obra e não como braço militar. No Maranhão a participação do negro foi
intensa. Essa maior participação se reflete na própria atuação do Preto Cosme.
Dois
piauienses tiveram atuação importante para colocar Caxias nas mãos dos Balaios:
Lívio Lopes Castello Branco e Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, Balaio. Os rebeldes
constituíram um Conselho Militar, enquanto que os proprietários formaram o
Corpo administrativo. Percebe-se a com
essa afirmação que cabia ao povo somente guerrear e aos que detinham a
intelectualidade usufruir o poder. Essa marca esteve presente em quase todos os
movimentos, a exceção foi a Cabanagem, onde o povo derruba a elite e assume o
poder.
A Balaiada do
Piauí difere em outro ponto da do Maranhão: a Piauiense foi rural e não
conseguiu tomar nenhuma cidade, enquanto a maranhense se desenrolou além do
setor rural no urbano e conquistou Caxias. Analisando desse ponto pode-se
cogitar que a Balaiada no Piauí foi reflexo da do Maranhão. Mas percebendo a
composição social, os conflitos armados e a extensão dos acontecimentos, o
Piauí adquiriu características próprias.
Uma afirmação
interessante que o autor traz e passível de crítica é que uma rebelião popular
com grandes números de rebeldes existe uma falta de organização, razão do
fracasso da Balaiada. A desorganização dos movimentos é trabalhada pela
historiografia tradicional. A história, a partir de 1980 adquiriu uma nova
feição. Claudete Dias aponta que a derrota dos Balaios está atrelada a
superioridade dos armamentos das tropas regenciais.
Segundo Carlos
Monteiro nos discursos da elite na Balaiada havia dois grupos: bandidos e
chefes insurgidos. Entende-se que os bandidos eram os pobres oprimidos pelo
regime do Barão da Parnaíba e os Insurgentes eram os proprietários que
participavam do movimento na busca de participação política. Seriam bandidos os
mestiços, os negros, os vaqueiros; e insurgidos a família Castello Branco, os Aguiar,
etc.
O autor da
muita ênfase aos líderes das tropas do governo, tais como Clementino, Antonio
Mendes, Miranda Osório, Cid e seus feitos. Seu texto é muito detalhista e até
repetitivo. Não cria um percurso próprio. Sua escrita pode ser comparada com as
de Odilon Nunes, uma descrição dos fatos de forma cronológica.
Tem-se a
constatação do grande número de mulheres e crianças entre os capturados e uma
pequena quantidade de escravos na participação do movimento no Piaui. “[...] as
forças de Piracuruca, como resultado de sua operação de atalhe na fuga,
consignam 156 baixas no inimigo, dos quais 6 mortos e dos 150 prisioneiros, 43
mulheres, 56 crianças e 2 escravos[...]” (MONTEIRO, 2008, p.228). Esses dados
vão de encontro à abordagem de Odilon Nunes de que o negro na Balaiada piauiense
foi complementar, bem como se adequada as de Claudete Dias de que os Balaios
quando fugiam para o interior das matas com suas famílias.
A partir da
Balaiada se percebe o descaso do poder central para com o Piauí. A Província
sem finanças e sem o apoio do poder regencial repreendia os balaios no
maranhão. Com Luís Alves de Lima verbas foram deslocadas para o Maranhão,
enquanto que o Piauí ficava à margem mesmo com as pressões do Barão da
Parnaíba.
Conclui-se
que houve uma guerra de extermínio dos balaios, onde a repressão se deu com
maior intensidade em Curimatá e Egito. Os Balaios foram sufocados devido o
aparato militar superior das tropas legalistas, saída de alguns líderes do
movimento (Lívio Castello Branco, Mascarenhas), Morte de Balaio, prisão de
Cosme, Anistia de 1840. Com o fim da Balaiada o Barão se torna Visconde da
Parnaíba. Teve época de glória e sofre uma rápida derrota: surgiram críticas às
fraudes eleitorais, a crise econômica pós-Balaiada, o nepotismo, autoritarismo.
Os políticos da época exercem pressões sobre o Visconde. Por fim, em 30 de
dezembro de 1843 finda o longo governo de vinte e três anos do então Visconde.
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