MARCOS DOS ANJOS
BEZERRA
HOBSBAWM, Eric. Marx e a história. In: Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 171-184.
Papel único de Marx na historiografia: autobiográfico; similar; livro de Braudel, Civilização material, economia e capitalismo.
A Influência de Marx na literatura histórica não é evidente por si mesma, pois embora seja o cerne do marxismo e tudo que Marx escreveu esteja impregnado história, ele não escreveu a história como os historiadores entendem. Não escreveu obras que contivessem no título a palavra história, exceto um conjunto de artigos contra os czares, denominado “A história diplomática secreta do século XVIII”, mas estes tiveram um papel secundário. O que denominamos escritos de Marx consiste quase que exclusivamente na análise política e comentários jornalísticos associados a um contexto histórico. Marx aplicava métodos históricos concretos, mas suas obras não eram escritas como história, tal como entendem os historiadores dedicados ao passado. Marx influenciou os historiadores ao usar o materialismo histórico, exemplos históricos.
As obras de Marx estão embasadas nos escritos teóricos e políticos. Estes escritos marxistas consideram o desenvolvimento histórico em razão de sua maior ou menor duração e engloba o desenvolvimento humano. No entanto, Marx não consegue abarcar uma síntese completa do desenvolvimento histórico; e sua obra o Capital não pode ser tratada como uma história completa do capitalismo até 1867. Ele encontrou grande dificuldade para concluir seus projetos, suas concepções foram evoluindo e em suas obras ele fez um estudo inverso, pois ele tomou o capitalismo desenvolvido como ponto de partida.
Conceito de trabalho: antes de Adam Smith não se tinha o conceito de trabalho. Para se entender a história humana em sentido global e de longo prazo, com as transformações sobre a natureza pelo homem é prescindível compreender o conceito de trabalho social.
A influência de Marx sobre os historiadores se baseia em sua teoria geral (materialismo histórico) com suas pistas para uma análise do desenvolvimento histórico humano deste o primitivismo até o estágio avançado do capitalismo.
A concepção materialista da história foi durante muito tempo a parte menos questionada e foi considerada o cerne marxista. Esta concepção materialista criticava as ideologias alemãs de que as ideias, pensamentos e conceitos produzem e determinam os homens, suas condições materiais e sua vida real. A visão marxista pregava que não era a consciência que determinava a vida, mas a vida que determina a consciência.
O processo de produção segundo Marx não é somente a produção material da vida em si mesma, pois é algo amplo que envolve tanto as relações dependentes entre natureza, trabalho, trabalho social e organização social. Acrescenta-se a tudo isso que o homem produz não somente com as mãos, mas também com a cabeça.
A concepção materialista da história é à base da explicação histórica, mas não a explicação histórica em si, pois os homens tem consciência e decidem e refletem sobre o que acontece. Marx desejava provar que o comunismo era consequência inevitável do desenvolvimento histórico, mas essa convicção não foi provada mediante uma análise histórica científica.
O argumento decisivo da concepção materialista da história dizia respeito à relação entre o ser social e a consciência. É impossível distinguir as relações sociais de produção por se trata de uma distinção histórica retrospectiva, como também porque as relações de produção são estruturadas pela cultura e conceitos que não podem ser a elas introduzidas. As visões dos homens sobre o mundo determinam suas formas de existência social.
A análise de uma sociedade em qualquer momento de seu desenvolvimento histórico deve começar, segundo os marxistas, por uma análise do seu modo de produção, em outras palavras a forma tecno-econômica entre o homem e a natureza proporciona uma adaptação do homem à natureza e a transforma pelo trabalho.
O materialismo serve para explicar um caso especial: as sociedades da Antiguidade clássica passaram pelo feudalismo até o capitalismo e por que outras sociedades não o fizeram. Para Marx é nesse aspecto que deve ocorrer à revolução porque as forças de produção alcançaram ou devem alcançar um ponto em que são incompatíveis com as relações de produção do modo capitalista.
O modo de produção determina o crescimento das forças produtivas e a distribuição do excedente e que pode ou não mudar as estruturas. O conceito de modo de produção constitui uma emancipação do homem em relação à natureza, e seu controle sobre ela. Marx é essencial a todo estudo histórico, pois ele tentou formular uma abordagem metodológica como um todo e considera a explicação da evolução social humana.
Influências de Marx para a história: historiadores não socialistas são fortemente influenciados pelos estudos de Marx. Têm-se um reconhecimento. Fatos que eram abordados por marxistas hoje são debatidos por uma vasta gama de historiadores; a história marxista é tida como ponto de partida e não como de chegada. Tem-se a utilização de métodos ao invés de comentar textos; a história marxista é pluralista. Tem-se um diálogo entre diferentes opiniões baseadas em um único método; a história marxista não é isolada do restante do pensamento e da pesquisa histórica. Os escritos de historiadores não marxistas passam a ser aceitos desde que constituem uma boa história.
No futuro será preciso defender Marx e o marxismo dentro e fora da história contra aqueles que os atacam no terreno político e ideológico. Ao fazer isso estaremos defendendo a história e a capacidade do homem de compreender o mundo e como a humanidade pode avançar para melhor.
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