quinta-feira, 26 de junho de 2014

Ditadura e democracia na América Latina


Marcos dos Anjos Bezerra


ARAÚJO, Maria Paula. Esquerdas, juventude e radicalidade na América Latina nos anos de 1960 e 1970. In: ARAÚJO, Maria de Paula; FERREIRA, Marieta de Morais; FICO, Carlos;  QUADRAT, Samantha Viz (org.). Ditadura e democracia na América Latina. Rio de Janeiro: FGV, 2008. p. 247-273.


        Maria Paula Araújo é doutora em ciência política pelo IUPERJ e professora de História contemporânea do departamento de História da UFRJ, onde integra a PPGHIS. Coordena o núcleo de História Oral do laboratório de estudos do tempo presente. É autora de A Utopia Fragmentada: novas esquerdas no Brasil e no mundo nos anos de 1970 (FGV, 2000) e Memórias estudantis da fundação da UNE aos nossos dias (Relume Dumará, 2008).
O tema deste capítulo são os movimentos de resistência, de luta, de enfrentamento e oposições às ditaduras latino-americanas, enfocando em particular, a radicalidade política da juventude dentro de organizações e partidos de esquerda americanos. A meta de tal trabalho é abordar a construção do conceito de “violência revolucionária”, trazendo o seu lado positivo como forma de questionar as ações das políticas autoritárias. E ao trazer o lado positivo da violência tem-se a tentativa de recuperar os projetos, os sonhos e as estratégias políticas da época e com isso conceituar os mortos por torturas não apenas como vítimas, mas como pessoas combatentes que possuíam projetos políticos definidos que buscavam alcançar a “revolução”.
Ao analisar a década de 1960 e 1970 observa-se que a esquerda, juventude e radicalidade estiveram interligadas e que se expressaram através da luta armada. Mas, tal radicalismo político e violência não foram marcas apenas dos jovens latino-americanos. Esse foi um fenômeno mundial. Na Europa, houve resistência armada ao regime de Franco, aos governos italiano e alemão. E a organização de tais movimentos deu-se por jovens e universitários. Na Espanha franquista foi criado o Movimento de libertação – Grupos Autônomos de Combates (MIL-GAC) que enfocava a autonomia operária; na Itália eclodiu as Brigadas Vermelhas que lutava pela não violência às massas operárias; na Alemanha foi fundada a Fração do Exército Vermelho se identificava como comunistas de guerrilha urbana. 
Para que houvesse a padronização da violência, os combatentes se apropriaram de políticas que justificavam a sua realização. As guerras anticoloniais serviram de modelo para o embasamento teórico e político que justificava a violência como um instrumento contra os regimes autoritários. O oprimido e explorado, citando como exemplos Argélia, Cuba, China e Vietnã, por meio dos “despossuídos, fracos e humildes” buscavam libertar seus territórios das grandes potencias empregando a “violência justa e necessária”. Mao Tse-Tung  através de sua celebre frase: “O poder brota do cano de uma arma” encantava jovens militantes no mundo todo.
Como impulso provocado pelas lutas anticoloniais e revolução cubana e chinesa a segunda metade do século XX se caracterizou pela uma imersão geral da luta armada encabeçada por homens e mulheres que queriam uma revolução social. Surge no Uruguai o Movimento de Liberación Nacional que empreenderam sequestros de autoridades e diplomatas; na Colômbia foi criado as Fuergas Armadas Revolucionarias Colombianas (FARC); no Brasil foi criada a Aliança Nacional Libertadora (ANL); na Nicarágua desenvolveu-se a Frente Sandinista de Libertação Nacional. Alguns países (Brasil, Uruguai) tiveram-se principalmente guerrilhas urbanas e outros (Nicarágua, El Salvador) tiveram guerrilhas camponesas.
A Igreja Católica teve um papel importante na radicalização da luta armada. Bispos e padres passaram a defender os movimentos sociais. Sacerdotes em alguns países não só justificavam a violência como chegaram a pegarem em armas. Esta tendência radical teve muita influencia na Argentina. Muitos dos jovens sacerdotes assumiram a solidariedade e o compromisso com os pobres.
O terceiro mundismo por afirmarem as desigualdades do desenvolvimento capitalista mundial lançaram teses revolucionárias para mudar o quadro de exploração perante as classes trabalhadoras. Por estarem na maioria das vezes submetidos a ditaduras militares era preciso à legitimação da violência para que houvesse a emancipação e uma possível política socialista. A crença no potencial revolucionário do Terceiro Mundo impulsionou a luta armada na América Latina.
Ao se analisar a América Latina nas décadas de 1960 e 1970 marcados pelo confronto armado, não pode deixar de relatar o Chile como uma exceção a violência. Ele representou a tentativa pacífica para o Socialismo e foi ferozmente combatido pelas tropas armadas locais chilenas que tiveram o apoio dos Estados Unidos. Salvador Allende propôs em seu mandato eleitoral uma transição pacífica para o Socialismo, enquanto que boa parte das nações     latino-americanas abordava a força como o meio legítimo para a eclosão das mudanças sociais. Mas a meta de Allende se efetivou, pois houve um golpe de Estado e a ditadura se instala no país através de Pinochet.
No que se refere ao Brasil observa-se a presença constante da luta armada e as primeiras organizações para tal fim foram às desenvolvidas por Carlos Marighella que cria a Aliança Libertadora Nacional (ANL), seguindo pelo surgimento de outras tais como: PCBR, Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), etc. No entanto, a luta armada no Brasil foi curta e trágica, devido a militantes presos, mortos, exilados, torturados.
A partir do final do século XX começa-se a desenvolver a questão do pacifismo, devido primordialmente aos avanços das armas nucleares. A noção positiva da violência vai perdendo o seu valor e se tem a valorização da democracia e dos direitos humanos. Mas, a violência ainda é um grande problema e muitos dos problemas enfrentados são reflexos dessa prática, tais como as desigualdades sociais, corrupção, criminalidade. A violência do passado assombra o presente.
Ao analisar a elaboração do texto observa-se a empolgação da autora em determinados momentos, inclusive ela chega a favorecer a questão da violência como forma de mudança, talvez isso ocorra devido ao envolvimento que ela tem com o tema de sua pesquisa. O texto apresenta um linguajar de fácil compreensão, mas em determinados momentos as ideias acabam por se repetir, provocando a redução da vontade de prosseguir. Por ser um tema amplo não se tem a especificação aprofundada acerca da luta armada proporcionada pela juventude e universitários, por exemplo, no Brasil. A abordagem se dá de forma sintética, superficial.
 Ao fazer um paralelo com o texto de Maria Lygia Quartim Moraes, observa-se que as pessoas tidas como as organizadoras de tal resistência são jovens e intelectuais (Universitários), inclusive mulheres, e que essas pessoas eram perseguidas e torturadas. E a consequência de tais perseguições era a morte, torturas, exílio.
Por fim, para que ocorra a valorização da democracia e dos direitos humanos é preciso, principalmente, o aprofundamento da moral e da ética, tanto para quem governa como por quem é governado, caso contrário às sociedades sempre estarão sujeitas as violências e seus reflexos. E esse aprofundamento é uma das funções dos professores em geral, através da abordagem que priorize o pensamento ativo e crítico dos alunos.

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