Marcos dos Anjos Bezerra
ARAÚJO, Maria Paula. Esquerdas, juventude e
radicalidade na América Latina nos anos de 1960 e 1970. In: ARAÚJO, Maria de
Paula; FERREIRA, Marieta de Morais; FICO, Carlos; QUADRAT, Samantha Viz (org.). Ditadura e democracia na América Latina. Rio
de Janeiro: FGV, 2008. p. 247-273.
Maria Paula Araújo é doutora em
ciência política pelo IUPERJ e professora de História contemporânea do
departamento de História da UFRJ, onde integra a PPGHIS. Coordena o núcleo de
História Oral do laboratório de estudos do tempo presente. É autora de A Utopia
Fragmentada: novas esquerdas no Brasil e no mundo nos anos de 1970 (FGV, 2000)
e Memórias estudantis da fundação da UNE aos nossos dias (Relume Dumará, 2008).
O tema deste
capítulo são os movimentos de resistência, de luta, de enfrentamento e
oposições às ditaduras latino-americanas, enfocando em particular, a
radicalidade política da juventude dentro de organizações e partidos de
esquerda americanos. A meta de tal trabalho é abordar a construção do conceito
de “violência revolucionária”, trazendo o seu lado positivo como forma de
questionar as ações das políticas autoritárias. E ao trazer o lado positivo da
violência tem-se a tentativa de recuperar os projetos, os sonhos e as estratégias
políticas da época e com isso conceituar os mortos por torturas não apenas como
vítimas, mas como pessoas combatentes que possuíam projetos políticos definidos
que buscavam alcançar a “revolução”.
Ao analisar a
década de 1960 e 1970 observa-se que a esquerda, juventude e radicalidade estiveram
interligadas e que se expressaram através da luta armada. Mas, tal radicalismo
político e violência não foram marcas apenas dos jovens latino-americanos. Esse
foi um fenômeno mundial. Na Europa, houve resistência armada ao regime de
Franco, aos governos italiano e alemão. E a organização de tais movimentos deu-se
por jovens e universitários. Na Espanha franquista foi criado o Movimento de
libertação – Grupos Autônomos de Combates (MIL-GAC) que enfocava a autonomia
operária; na Itália eclodiu as Brigadas Vermelhas que lutava pela não violência
às massas operárias; na Alemanha foi fundada a Fração do Exército Vermelho se identificava
como comunistas de guerrilha urbana.
Para que
houvesse a padronização da violência, os combatentes se apropriaram de
políticas que justificavam a sua realização. As guerras anticoloniais serviram
de modelo para o embasamento teórico e político que justificava a violência
como um instrumento contra os regimes autoritários. O oprimido e explorado,
citando como exemplos Argélia, Cuba, China e Vietnã, por meio dos
“despossuídos, fracos e humildes” buscavam libertar seus territórios das
grandes potencias empregando a “violência justa e necessária”. Mao Tse-Tung através de sua celebre frase: “O poder brota
do cano de uma arma” encantava jovens militantes no mundo todo.
Como impulso
provocado pelas lutas anticoloniais e revolução cubana e chinesa a segunda
metade do século XX se caracterizou pela uma imersão geral da luta armada encabeçada
por homens e mulheres que queriam uma revolução social. Surge no Uruguai o
Movimento de Liberación Nacional que empreenderam sequestros de autoridades e
diplomatas; na Colômbia foi criado as Fuergas Armadas Revolucionarias Colombianas
(FARC); no Brasil foi criada a Aliança Nacional Libertadora (ANL); na Nicarágua
desenvolveu-se a Frente Sandinista de Libertação Nacional. Alguns países (Brasil,
Uruguai) tiveram-se principalmente guerrilhas urbanas e outros (Nicarágua, El Salvador)
tiveram guerrilhas camponesas.
A Igreja
Católica teve um papel importante na radicalização da luta armada. Bispos e
padres passaram a defender os movimentos sociais. Sacerdotes em alguns países
não só justificavam a violência como chegaram a pegarem em armas. Esta
tendência radical teve muita influencia na Argentina. Muitos dos jovens
sacerdotes assumiram a solidariedade e o compromisso com os pobres.
O terceiro
mundismo por afirmarem as desigualdades do desenvolvimento capitalista mundial
lançaram teses revolucionárias para mudar o quadro de exploração perante as
classes trabalhadoras. Por estarem na maioria das vezes submetidos a ditaduras
militares era preciso à legitimação da violência para que houvesse a
emancipação e uma possível política socialista. A crença no potencial
revolucionário do Terceiro Mundo impulsionou a luta armada na América Latina.
Ao se analisar a
América Latina nas décadas de 1960 e 1970 marcados pelo confronto armado, não
pode deixar de relatar o Chile como uma exceção a violência. Ele representou a
tentativa pacífica para o Socialismo e foi ferozmente combatido pelas tropas
armadas locais chilenas que tiveram o apoio dos Estados Unidos. Salvador Allende
propôs em seu mandato eleitoral uma transição pacífica para o Socialismo,
enquanto que boa parte das nações latino-americanas abordava a força como o meio
legítimo para a eclosão das mudanças sociais. Mas a meta de Allende se
efetivou, pois houve um golpe de Estado e a ditadura se instala no país através
de Pinochet.
No que se refere
ao Brasil observa-se a presença constante da luta armada e as primeiras
organizações para tal fim foram às desenvolvidas por Carlos Marighella que cria
a Aliança Libertadora Nacional (ANL), seguindo pelo surgimento de outras tais
como: PCBR, Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), etc. No entanto, a luta
armada no Brasil foi curta e trágica, devido a militantes presos, mortos,
exilados, torturados.
A partir do
final do século XX começa-se a desenvolver a questão do pacifismo, devido
primordialmente aos avanços das armas nucleares. A noção positiva da violência vai
perdendo o seu valor e se tem a valorização da democracia e dos direitos
humanos. Mas, a violência ainda é um grande problema e muitos dos problemas
enfrentados são reflexos dessa prática, tais como as desigualdades sociais,
corrupção, criminalidade. A violência do passado assombra o presente.
Ao analisar a
elaboração do texto observa-se a empolgação da autora em determinados momentos,
inclusive ela chega a favorecer a questão da violência como forma de mudança, talvez
isso ocorra devido ao envolvimento que ela tem com o tema de sua pesquisa. O
texto apresenta um linguajar de fácil compreensão, mas em determinados momentos
as ideias acabam por se repetir, provocando a redução da vontade de prosseguir.
Por ser um tema amplo não se tem a especificação aprofundada acerca da luta
armada proporcionada pela juventude e universitários, por exemplo, no Brasil. A
abordagem se dá de forma sintética, superficial.
Ao fazer um paralelo com o texto de Maria
Lygia Quartim Moraes, observa-se que as pessoas tidas como as organizadoras de
tal resistência são jovens e intelectuais (Universitários), inclusive mulheres,
e que essas pessoas eram perseguidas e torturadas. E a consequência de tais
perseguições era a morte, torturas, exílio.
Por fim, para que ocorra a valorização da democracia e dos direitos humanos é preciso,
principalmente, o aprofundamento da moral e da ética, tanto para quem governa
como por quem é governado, caso contrário às sociedades sempre estarão sujeitas
as violências e seus reflexos. E esse aprofundamento é uma das funções dos
professores em geral, através da abordagem que priorize o pensamento ativo e
crítico dos alunos.
bom
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